O ESTRESSE SOB O ENFOQUE BIOPSICOSOCIAL
Autor: Dr. Ricardo Leme – Neurocirurgião e Doutor em Ciências (Neuroregeneração)
Os primeiros estudos sobre o estresse foram realizados em animais e mostraram como o corpo responde fisiologicamente a eventos perigosos ou ameaçadores. No caso dos seres humanos, no entanto, existe um aumento na complexidade da resposta a um evento potencialmente estressante, de forma que pessoas diferentes podem responder de formas variadas a uma mesma situação de estresse. A definição mais atual de estresse é que se trata de estado emocional negativo que ocorre em resposta a eventos percebidos como difíceis ou que excedem os recursos e as habilidades da pessoa em lidar com eles. Deste modo quando existem recursos adequados para enfrentar uma dada situação, provavelmente isso criará pouco ou nenhum estresse na vida da pessoa. Mas quando os recursos são inadequados para enfrentar situações ameaçadoras, desafiadoras ou perigosas, os efeitos do estresse podem ser observados.
O sistema límbico (SL) é a parte do sistema nervoso que tem importância capital nos mecanismos neurais que governam o comportamento e as emoções. Este sistema constitui uma importante interface entre o corpo físico e o ambiente que o circunda. Os componentes deste sistema têm suas principais relações aferentes e eferentes com dois grandes campos funcionais, o neocórtex e a periferia víscero-endócrina. Dentro do SL, os corpos amigdalóides têm papel crucial na mediação de respostas autonômicas, comportamentos emocionais e alimentares. As amígdalas dão origem a fibras que se projetam para o hipotálamo e tronco cerebral e regulam as respostas autonômicas aos estímulos emocionalmente carregados. Existe ainda uma projeção para o núcleo paraventricular do hipotálamo de grande importância na mediação das respostas neuroendócrinas aos estímulos que causam medo ou estresse. Desta forma, fica fácil antever a importância das emoções em qualquer processo que tenha como objetivo estudar situações de estresse.
O sistema límbico pode ser visto como o deflagrador das experiências que ocorrem no cotidiano, sendo nesta região que ocorre a vinculação das experiências vividas ao universo emocional do indivíduo. Nas experiências religiosas intensas assim como em situações de forte conteúdo emocional, o SL mostra-se particularmente ativo, conferindo grande peso ao vivido, sendo este um dos motivos pelo qual estas experiências muitas vezes são tão difíceis de serem descritas em palavras. Finalmente mas não menos importante o SL funciona como um centro de mediação entre o sistema nervoso central (SNC) o sistema imunológico (SI) e o sistema endocrinológico (SE).
Brevemente, a resposta imediata do corpo ao estresse se caracteriza do ponto de vista fisiológico pela ativação do hipotálamo com conseqüente efeito sobre as glândulas supra-renais. A medula supra-renal responde aumentando a secreção de catecolaminas (adrenalina e noradrenalina) que determinam o aumento na freqüência respiratória, batimentos cardíacos e da pressão arterial além de elevação do fluxo de sangue para os músculos, inibição da digestão e dilatação pupilar. O córtex supra-renal por sua vez promove aumento na secreção de corticosteróides com conseqüente liberação de energia armazenada, redução da inflamação e diminuição da resposta do sistema imunológico, sendo estes efeitos observados nos casos em que a situação de sobrecarga se mantém por um tempo prolongado.
Hoje sabemos que existe uma grande rede psicossomática na qual os sistemas nervoso, imunológico e endocrinológico constituem três sistemas cognitivos em constante interação, “cérebros” em diálogo contínuo. Do ponto de vista neurobiológico, a cognição é um fenômeno que se expande por todo o organismo, operando por uma intrincada rede neuroquímica que integra atividades mentais, emocionais e biológicas, representando a porta de entrada consciente na realidade dos fenômenos que podem conduzir a situações de stress ou estresse.
O estresse (stress) pode ser enfocado sob a perspectiva da saúde ou da doença, sendo a primeira sempre superior à segunda. Toda informação sobre saúde gera consciência enquanto as informações que versam sobre doença geram medo e mal estar interior, ainda que não se perceba em um primeiro momento. A doença, assim como as guerras e as drogas ilícitas movimentam quantias financeiras monumentais, e serve muitas vezes aos veículos sensacionalistas como meio para lançar novas medicações (drogas lícitas) e mesmo para promover instituições escolhidas que oferecem tratamentos especializados. É preciso estar atento para diferenciar as informações sobre saúde daquelas sobre doenças, pois quem se nutre de informações sobre saúde cultiva um estado saudável, enquanto quem se nutre de informações sobre doenças sem perceber caminha ao encontro delas.
Todo ser humano tem um mundo interior e um mundo exterior sendo importante que os dois estejam em equilíbrio e igualmente alimentados no sentido de prevenir os efeitos de situações que podem levar ao estresse. Nos dias de hoje é comum se enfatizar o preenchimento da dimensão exterior do homem em detrimento de sua dimensão interior. O mundo exterior do ser humano pode ser preenchido por bens materiais, títulos adquiridos durante a vida (profissão, posição social, títulos acadêmicos etc.), e ainda pelas tentativas de manter uma aparência frente ao mundo em resposta à preocupação constante sobre o que os outros vão pensar a seu respeito. Não se pode negar a importância do preenchimento desta esfera de vida em algum grau, no entanto, quando ela não se acompanhar do crescimento interior, é provável que a leveza do viver seja substituída pelo desafio de experiências mais intensas que em última análise objetivam nada mais que despertar a pessoa para a necessidade de se completar interiormente. O preenchimento interior diz respeito à esfera das virtudes e do autoconhecimento, medicações de primeira escolha no tratamento do estresse ou stress.
O poeta diz:
Semeando um pensamento se colhe a ação,
semeando a ação se colhe o hábito,
semeando o hábito se colhe o caráter
e semeando o caráter se colhe o destino.
Estas palavras encontradas na literatura desde a época da Grécia antiga há 2400 anos, sugerem que caráter e as virtudes estão estreitamente ligados à qualidade do destino da pessoa. Nos dias atuais é reforçada a importância da formação técnica profissional com ênfase na especialização, sendo muitas vezes negligenciada a necessidade do concomitante enriquecimento do campo interior do ser humano. Isto gera inicialmente de forma imperceptível um processo de desumanização e esvaziamento de virtudes com conseqüente situação de inadequação da pessoa dentro do contexto social em que está inserida. Para funcionar adequadamente o ser humano precisa de um equilíbrio dessas 2 esferas e qualquer situação de desequilíbrio pode progressivamente levar a situações de sobrecarga e estresse.
O provérbio ajuda a refletir sobre a realidade interior e exterior:
Dinheiro perdido, nada perdido
Saúde perdida, muito perdido
Caráter perdido, tudo perdido.
Sob uma perspectiva espiritual, o homem é imagem de Deus enquanto forma física e semelhança de Deus enquanto portador de virtudes. Preservamos a imagem mas muitos perdemos a semelhança, perda que resultou não só no esvaziamento interior de alguns, mas principalmente em modelos de vida vazios de valores e propósitos. Importante que se observe interiormente como está o preenchimento e significação da vida. Perguntas que não necessariamente necessitam de resposta como quem sou eu?; o que estou fazendo no interior deste corpo cujo reflexo vejo no espelho?, qual o motivo de eu estar vivo ou de ter nascido? Precisam ser feitas por cada um de nós! A resposta não é importante, mesmo porque é provável que não exista um gabarito! O questionamento, no entanto, é fundamental pois posiciona o ser dentro de uma perspectiva existencial de significação.
A partir desta significação cada um pode optar por uma vivência que enfoca uma vida baseada na materialidade ou baseada em qualquer proposta imaterial (espiritual). Trabalhar sob uma perspectiva de equilíbrio entre materialidade e espiritualidade é interessante na medida em que permite que a opção profissional (material) sirva como suporte estrutural para que a vida seja plena ou tenha um objetivo ou significado maior existencial (espiritualidade). Sempre que o significado material consistir numa finalidade em si mesma, podem ocorrer situações em que as partes envolvidas trabalhem com conceitos do tipo a lei do mais forte, a lei da vantagem ou a lei do mais esperto, enfim perspectivas em que a inteligência se degenera na sua oitava inferior, a astúcia (inteligência voltada para propósitos egoístas).
Nesse sentido é importante chamar atenção à distância que existe entre os conceitos de sucesso e felicidade. Ao contrário do que possa parecer em um primeiro olhar, estes conceitos na grande maioria das vezes não se harmonizam. Sucesso e felicidade são muito diferentes entre si e raramente estão ligados. Seja sucesso visto como conseguir tudo aquilo que se deseja e felicidade definida como estar satisfeito com tudo aquilo que se tem, e logo se percebe que cada conceito leva a uma direção diferente. Felicidade se relaciona com satisfação e sucesso se relaciona com desejo, ora estar satisfeito é estar pleno e desejar é querer ser preenchido, o que mostra a desigualdade entre estes dois estados.
A busca do sucesso guarda em si o potencial de situações que podem levar a sobrecarga e estresse. Por outro lado a busca da felicidade, no sentido de se realizar interiormente, com a situação de estar satisfeito traz em si o potencial de situações de harmonia e saúde. Finalmente vale notar que numa vida saudável, sucesso e felicidade podem se tocar, se complementar e eventualmente se potencializar quando em equilíbrio a satisfação com o preenchimento interior e as conquistas do mundo exterior. Situações de estresse ocorrem quando se abre mão da felicidade para obter sucesso. Muitos conseguem o que querem pagando no final com sua própria felicidade, mostrando um aspecto em que a infelicidade pode estar no conseguir o que se deseja!
Um autor chamado Ouspensky, atenta para dois importantes agentes estressores chamados consideração e identificação. Quando consideramos muito ou nos identificamos muito com outras pessoas somos levados muitas vezes a abrir mão de nossos valores próprios em favor de situações que nos desagradam e podem nos desgastar. A identificação com grupos, que geralmente implica na necessidade de ser aceito e a consideração a pessoas pelo mesmo motivo, invariavelmente deformam o ser e acarretam no tempo situações de grande estresse que muitas vezes não se sabe de onde surgiram. A pessoa acha que a vida dela é absolutamente normal, mas na realidade não tem vida interior visto que se baseia no mundo exterior para tomar suas decisões e conduzir sua existência.
Começa então a ficar claro que existe uma dimensão interior (dimensão do ser) que precisa ser alimentada e é tão ou mais importante que a dimensão exterior da vida (dimensão do ter). O ideal é que se equilibrem estes dois níveis do existir, de forma que conhecendo suas aspirações mais profundas se previna os efeitos muitas vezes deformantes da opinião de pessoas que nos cercam e de grupos aos quais pertencemos. A submissão que decorre da escassez de recursos interiores, relativos ao ser, é um dos principais motivos de estados de estresse em vidas nas quais o ter é super enfatizado. A sociedade de consumo é muito jovem na história da humanidade e certamente ainda passará por um processo de amadurecimento onde perceberá que não se deve buscar o lucro a qualquer custo ou o lucro pelo lucro apenas. É possível lucrar e promover consciência concomitantemente e num tempo bastante próximo as empresas mais bem sucedidas e que se perpetuarão serão aquelas que além do produto comercializado (substância nutritiva do ter) promoverão o crescimento interior do consumidor. Uma forma segura da sociedade crescer é em conjunto, sempre que alguém fica para trás todos perdemos algo também, fato que fica claro no seguinte vídeo:
Cada pessoa sempre e em qualquer situação de vida está constantemente mostrando no momento presente o melhor que ela consegue fazer, conforme suas atitudes e exemplos pessoais. Claro que o melhor de alguns é muito pouco em relação ao melhor de outros! Enquanto para alguns este melhor pode visar interesses pessoais e de grupos restritos para algum tipo de ganho, para outros este melhor busca um efeito mais abrangente em que todos possam ganhar. Hoje ainda existem grupos de seres humanos com potencial de consciência muito pouco desenvolvido e que acreditam que ganhar enquanto o próximo perde seja realmente uma vitória. No entanto, a atitude com maior potencial de prevenção do estresse em geral é aquela do tipo ganha-ganha, ou seja eu ganho e você ganha. Atitudes em que eu ganho e o outro perde geram dinâmicas e vícios de viver que invariavelmente culminam em situações de estresse pessoal e diminuição de qualidade e tempo de vida. Pode haver neste instante a tentação de olhar para os noticiários ou para quem está ao nosso lado, e apontar os erros que já conseguimos perceber. A atitude ideal no entanto se afasta muito deste comportamento e consiste em olhar para si, apenas para si e corrigir em si mesmo o erro que eventualmente se enxerga no outro. Enquanto vemos o erro no outro, ocorre naturalmente uma paralisação interior em nosso processo de desenvolvimento que fica bloqueado pela falsa impressão de que eu sou melhor que o outro, que faz coisas que eu sei serem erradas.
Pior que a autopromoção pela propaganda, que deve ser evitada ao máximo, é o denegrir a imagem do próximo. A própria atitude errada arrasta a pessoa envolvida para um contexto de vida geralmente mais complexo que o necessário para uma vida plena, e trás em seu bojo a semente de experiências que futuramente servirão de atrito necessário para que a consciência dela se expanda para outro nível. A política assim como seus políticos constitui um campo de análise interessante onde aos olhos da nação representantes do povo mostram o melhor que eles conseguem fazer. São pessoas que podem nos ensinar muito sobre nossas próprias fraquezas e sobre valores e virtudes que nós mesmos cultivamos. Os políticos de uma nação representam a imagem clara da qualidade das pessoas desta nação assim como dos valores das pessoas. Precisamos nos esforçar bastante para melhorar e assim merecer programas que nos auxiliem a sair da proposta do “sempre mais dinheiro”, do “sempre mais barato” e enfim do “sempre mais…”, conforme nos alerta Rüdiger Dahlke, e buscar o crescimento orgânico lento. Neste tipo de crescimento, a pessoa se contenta com aquilo que obtém, consistindo em uma solução para quem dele participa para diminuir a pressão geradora de estresse.
Quantidade e qualidade nem sempre andam de mãos dadas, sendo necessária, atenção quando o “sempre mais” que acompanha a quantidade passa a ser priorizado em função do “gosto pelo que se está fazendo” que acompanha a qualidade. Quantidade sem qualidade é uma armadilha que deve ser evitada sempre, sendo a ambição seu sinalizador.
Muitas pessoas ainda acreditam que podem ganhar mais quando trabalham mais e deixam de perceber o efeito colateral do estresse que se segue à diminuição de seu tempo livre. Existe no entanto um contingente menor de pessoas que já conseguem perceber que mesmo trabalhando menos existe um ganho relativo maior na vida assim como um maior potencial de realização e felicidade vivenciada. Isto ocorre pois é fundamental que haja tempo para saborear as conquistas, caso contrário elas se transformam em degraus para o abismo do nada ou apenas outra forma de vício que já pode ser encontrado na nossa sociedade entre aquelas pessoas que não conseguem relaxar pois viciaram em trabalho. Este tipo de pessoa viciada em trabalho é uma fonte geradora de estresse social, pois à semelhança do trator que arrasta a terra por onde passa, ela arrasta a todos os que estão à sua volta tentando impor este comportamento, gerando perturbação em pessoas saudáveis que por ignorância se aproximaram deste ser em processo temporário de desequilíbrio interior. Ainda neste sentido merece ser lembrado o trabalho do sociólogo Domenico Demasi sobre o ócio e sua importância não apenas na manutenção da saúde, mas como ferramenta para aumentar o potencial criativo e diminuir a incidência de estados de estresse na sociedade moderna.
Os gregos antigos tratavam o tempo sob dois aspectos e usavam duas palavras para descrevê-lo: chronos e kairos. Enquanto o primeiro refere-se ao tempo seqüencial ou cronológico, o último trata de um momento indeterminado no tempo em que algo especial acontece e significa o “momento certo” ou “oportuno”. Em teologia, kairos, é usado para descrever a forma qualitativa do tempo, o “tempo de Deus”, enquanto chronos é de natureza quantitativa, o “tempo dos homens”. O “tempo humano” (medido) é descrito em horas e suas divisões, enquanto que o termo kairós que descreve “o tempo de Deus” não pode ser medido e sim vivido. Destas idéias surge a necessidade premente de que você leitor se pergunte sobre como estas duas dimensões da temporalidade estão compostas na sua vida atual. Quantidade sem qualidade é uma das características da “fast food” sabidamente ligada a comportamentos de estresse, além de todas as situações patológicas que a ciência convencional já mostrou estarem relacionadas. Um dos segredos para aumentar a quantidade de tempo é justamente estar atento à qualidade deste.
É comum que algumas pessoas se envolvam em atividades em que muito tempo é investido porém com pouco retorno qualitativo como no caso da passividade proporcionada por grande parte dos conteúdos da televisão em sua versão atual.Existem hoje na sociedade moderna, armadilhas que conduzem a situações de estresse, dentre as quais merecem destaque estratégias que levam as pessoas a perderem tempo. O tempo livre e com qualidade é a maior riqueza que possuímos, sendo neste tempo que a saúde pode ser recomposta e a vida ser resignificada e repensada. A falta deste tempo é um dos fatores responsáveis por uma série situações que acabam sendo denominadas de “doenças do mundo moderno”.
Este tema é amplamente explorado e explicado de forma simples pelo poeta e filósofo alemão Michael Ende em seu livro Momo e o senhor do tempo. O livro conta a história de uma menina abandonada que todos queriam ajudar, mas que acabavam sendo ajudados por ela que possuía algo que nenhuma pessoa tinha. Este algo era nada mais que tempo livre que ela usava para escutar as pessoas estressadas que se curavam na medida em que eram escutadas. O simples fato de ser escutado e de poder falar para alguém sobre si próprio constitui a base de várias linhas terapêuticas. Enquanto alguém fala de si para alguém ao mesmo tempo também se escuta e pode promover mudanças em sua vida com base neste movimento. Ser escutado com atenção por alguém que se importa conosco é algo com profundo poder terapêutico, que certamente todos já vivenciaram em algum momento difícil da vida. Falar traz para fora a realidade interior desorganizada favorecendo uma melhor compreensão e reorganização daquele que se expressa.
Se por um lado falar de si pode levar a um aprofundamento e melhor conhecimento, um importante fator gerador de estresse e desintegração é justamente a dificuldade em falar de si, o que desvia a atenção para tratar de assuntos relativos à vida alheia. Este falar do outro na sua ausência é um dos grandes males da nossa atualidade e promove um esvaziamento interior com importantes repercussões sobre o estado de saúde dos envolvidos. Este tipo de prática é promovida hoje em muitos veículos de comunicação como revistas que especulam e tratam da vida pessoal de celebridades até programas em que as pessoas são encorajadas a bisbilhotar sobre o que está acontecendo em ambientes controlados. Esta atitude de afastamento interior promove o esvaziamento de valores pessoais que passam a serem preenchidos por um modelo externo à pessoa, agora presa fácil para um modelo de sociedade baseado em consumo.
É comum que a imagem de pessoas de destaque seja associada a produtos ou lugares, estimulando aqueles que têm aquela pessoa como referencial de conduta ou de beleza a imitarem seu comportamento. Por outro lado, em uma sociedade com desnível social e educacional grande, isto vai servir como estímulo para que pessoas busquem e consumam coisas que elas nem sequer têm a chance de perguntar se realmente necessitam, como o chinelo que vem com a assinatura ou a foto de tal pessoa e que por isso fica o dobro do preço. A questão financeira é importante em nosso meio e orientar as pessoas menos favorecidas é uma forma importante de prevenir situações estressantes relacionadas não só aos problemas de desintegração familiar associados, mas também sobre como libertar estas pessoas da escravidão do consumo, das prestações e dos juros.
Todos já observamos uma bexiga que nunca foi cheia antes e percebemos que na primeira tentativa existe uma resistência grande de suas paredes quando assopramos ar no seu interior. Após a primeira enchida no entanto observamos que quando esvaziada, a bexiga nunca mais volta ao seu tamanho inicial, ela fica mais dilatada. A consciência funciona de forma semelhante, nunca mais volta ao seu tamanho inicial uma vez desperta. A transformação pessoal promovida por informações de qualidade, é fundamental para quem busca a saúde, ainda que ocorra de forma imperceptível. A dificuldade em se transformar pode estar, conforme inúmeros autores sugerem, diretamente relacionada a uma maior predisposição ao adoecer. A vida é um processo constante de transformação e nesse sentido, mesmo as doenças podem ser vistas sob uma perspectiva mais positiva e integrativa. Conforme Harold Mac Millan diz: deveríamos usar o passado como trampolim e não como sofá.
Um olhar mais profundo mostrará que em alguns casos, a doença é a grande oportunidade que a pessoa tem de rever uma forma de ser que não conseguiu mudar de forma alguma, pois se sentia confortável com ela. Neste sentido vale a pena repensar se a doença deve ser combatida ou compreendida e vivenciada da forma mais plena possível. As situações de estresse e de doença funcionam como sinalizadores que se compreendidos e incorporados podem promover uma recuperação mais natural e produtiva para a vida de cada pessoa.